Médico veterinário e auditor fiscal federal agropecuário, Daniel Santos Paim fala sobre o papel da inspeção no processamento de alimentos de origem animal
A profissão de médico veterinário sempre esteve no horizonte do auditor fiscal federal agropecuário Daniel Santos Paim. Mas foi só na formação que ele se conectou ao agronegócio. Nascido em Viamão, na Região Metropolitana, estudou na escola técnica agrícola do município, depois na UFRGS e, desde 2018, é servidor do Ministério da Agricultura, na área de inspeção de produtos de origem animal.
Com um frigorífico como “escritório”, ele fala sobre a rotina de quem tem a tarefa de zelar pela segurança dos alimentos que vão à mesa do consumidor. No caso dele, de dentro e fora do país (o Brasil tem ainda as esferas estadual e municipal de inspeção). Veja trechos da entrevista.
Você hoje trabalha na inspeção de um frigorífico de aves. Como chegou à função?
Decidi cursar veterinária porque gostava de animais. Meu primeiro contato com o agro foi na Escola Técnica Agrícola de Viamão. Lá consolidei a ideia de ser veterinário, mas me voltei para animais de produção. Ingressei na UFRGS e fui me especificando na produção de alimentos de origem animal, com foco em qualidade, sanidade, saúde pública. Meu mestrado foi na área do abate de suínos. Depois, atuei como responsável técnico em pequenas indústrias. Prestei concurso para o ministério e, em 2018, fui nomeado. Trabalhei em uma planta de abate de aves em Brasília. No início de 2020, voltei para o Estado, e também fiscalizo uma indústria de abates de frango.
Qual o papel da inspeção?
Somos responsáveis pela inspeção do animal vivo (ante-mortem) e após abatido (post-mortem). Na primeira, verificamos os animais que chegam. Para ver se têm sintomas, alguma condição que não conseguiríamos identificar após o abate, além das questões do bem-estar. Na post-mortem, avaliamos as carcaças e procuramos alterações ou lesões que não permitem o consumo da carne. Fazemos ainda a certificação sanitária e a verificação das práticas adotadas. Quando um produto tem o selo SIF, significa que foi produzido atendendo à legislação sanitária brasileira.
Seu local de trabalho é o frigorífico. Explica como funciona.
Apesar de não sermos funcionários da indústria, estamos 100% lá dentro. Isso acontece nas empresas com abate permanente. É mandatório que estejamos presentes o tempo inteiro nos turnos de abate. Precisamos moldar nosso horário ao da indústria. Meu turno começa às 5h e vai até 14h. A pessoa tem de gostar de trabalhar com saúde pública. Posso garantir que não existe rotina no abate. Cada dia tem uma situação diferente. Em cada lote, encontramos alguma coisa diferente do dia anterior. Geralmente temos horários bem atípicos. Não paramos na pandemia, somos atividade essencial. Não tem frio, calor, chuva, porque é produção de alimentos.
Que características são necessárias para atuar nessa área?
Ser centrado. É uma atividade que te exige bastante, precisa ter a capacidade de tomar decisões rápidas. Há preocupação com a qualidade do alimento e é preciso lidar com pessoas. Temos uma equipe grande de auxiliares no nosso trabalho. Precisamos ser conciliadores. E o fato de ficarmos dentro da indústria faz com que sejamos vistos como líderes.
Na carreira como auditor se vê em alguma outra posição?
Sou muito apaixonado pelo que eu faço. Sempre caminhei na graduação para trabalhar nessa área de alimentos, de fiscalização. Dentro do ministério, há muitas áreas de atuação, mas gosto de saúde pública. Não tenho pretensão de sair da área de produção animal. Também faço parte da Anffa Sindical (sindicato da categoria). Acho superimportante.
Fonte: Gauchach