Confira a primeira matéria desta série clicando aqui.
O trabalho de restauração de obras antigas realizado na Biblioteca Nacional de Agricultura – Binagri foi implementado de maneira muito natural. É o que conta o servidor Napoleão Motta, responsável por essa atividade.
“Sempre gostei de mexer com coisas pequenas, de consertar coisas. Um dia encontrei-me com a dona Neusa, coordenadora da Biblioteca, e me chamou a atenção o fato de que ela estava com um livro na mão, todo machucado. Então eu disse: ‘dona Neuza, me dá esse livro que eu acho que consigo consertar’. Levei para minha sala e comecei a trabalhar nele. Quando o devolvi, ela agradeceu e disse que estava muito bom, uma maravilha, em suas palavras. Nessa época eu atuava em outro setor, no qual não estava adaptado, e me disseram que se eu quisesse, poderia procurar outro lugar. Então me lembrei da dona Neuza. Conversamos, disse a ela que gostaria de fazer uma experiência na Biblioteca realizando a restauração de livros, e ela me absorveu em julho do ano passado, em 2021.”
O servidor conta que apesar de o trabalho não ser relacionado à sua área de formação, o talento natural para cuidar de detalhes e muito estudo o fizeram alcançar o conhecimento necessário para a execução de suas novas funções.
“Eu aprendo todo dia, pois, mesmo que tenha dois livros iguais, o procedimento nunca é o mesmo, cada um tem uma particularidade. Diante disso, eu crio um método. Tenho aqui um manual de restauração que recebi de um colega, também realizei um treinamento aprimorado com uma amiga, doutora em restauração pela UFMG, e complemento tudo isso com conhecimento empírico, baseado em pesquisas individuais.”
Napoleão apresenta a obra em que está trabalhando no momento: um mapa da colonização da serra gaúcha. O material data de 1886 mas está inacessível devido ao desgaste do papel em que foi produzido. “Eu tentei reaproveitar o material, mas não tinha condição”, lamenta o servidor. Assim, ele reconstrói o mapa como um quebra cabeças e a cada etapa concluída, produz uma cópia. Ao final do trabalho, une todas as cópias em um único documento exatamente igual ao original. “Não podemos dar esses documentos como perdidos, pois eles têm um nível impressionante de detalhes. Este, por exemplo, descreve a quantidade de imigrantes que povoaram o município de Caxias do Sul, que vieram principalmente da Itália”, informa.
Ele destaca também que o trabalho de conservação e restauração é minucioso e requer paciência. Saber qual tipo de cola se pode utilizar com qual papel, ou ainda com o couro, que não aceita determinados tipos de aderente, onde comprar materiais de boa qualidade e respeitar as etapas necessárias para a completa fixação das partes é fundamental.
Napoleão admite que, por não ser um laboratório de conservação e restauro, algumas rotinas ficam aquém do que se poderia alcançar com melhor infraestrutura, mas isso não o impede de realizar seu trabalho com extrema dedicação.
“Agradeço à dona Neuza por ter aberto as portas. Aqui na Binagri nós fazemos as nossas atividades com amor porque fazemos o que gostamos. Além da parte humana que preservamos aqui, toda a equipe é extremamente competente para atuar em suas funções. Seja catalogando materiais que chegam, atendendo ao público ou executando as rotinas pertinentes de cada área, todos realizamos nossas atividades com muito prazer, e creio que é esse sentimento que garante o sucesso de nosso trabalho.”
A coordenadora da Binagri atesta essa opinião, especialmente quando se refere a ela própria e suas pretensões de trabalho. Questionada sobre a ideia de aposentar-se, ela responde decidida: “Eu posso me aposentar há quase 20 anos, mas não tenho interesse, porque a prioridade em minha vida é ser feliz. E eu sou feliz aqui. Então, se eu sou feliz aqui, eu não tenho razão para ir embora, não é?”
Confira abaixo a galeria de imagens da rotina de restauração de Binagri.
Acompanhe também a próxima matéria da série especial sobre os servidores ilustres do Ministério da Agricultura.