A capacidade de resiliência ao enfrentar desafios e a consciência coletiva sempre nortearam a carreira da auditora fiscal federal agropecuária Hiromi Suzana Sant’Anna, engenheira agrônoma que ingressou por concurso no Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) há 20 anos. Entre 2002, quando começou na inspeção de bebidas no Acre, até hoje, no Laboratório Federal de Defesa Agropecuária no Estado (LFDA-RS), onde atua na parte de credenciamento de Laboratórios de Análise de Sementes, Hiromi desempenhou funções em diversas áreas e sempre engajada na luta sindical.
Nascida em Cuiabá (MT), mudou-se para Rio Branco (AC), onde estudou desde a infância até concluir a faculdade de Engenharia Agronômica na Universidade Federal do Acre (UFAC). Já o mestrado, em sensoriamento remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a levou para São José dos Campos (SP). Confira a entrevista com a AFFA, que já foi delegada sindical no Acre e hoje é secretária de finanças da Delegacia do ANFFA Sindical no Rio Grande do Sul.
Qual a tua trajetória profissional e no sindicato?
Trabalho no Laboratório de Sementes do LFDA-RS há cerca de dois anos, mas ainda fico parte do tempo (quando sou requisitada) no Laboratório de Classificação Vegetal, área que estou me desligando. Ingressei por concurso em 2002. Comecei na inspeção de bebidas, depois fui para classificação vegetal e, como atuava na Superintendência Federal do Acre, fazia um pouco de tudo. Passei pelo Vigiagro, trabalhei na fronteira do Brasil com o Peru e com a Bolívia. Fazíamos um sistema de rodízio e plantão pela falta de fiscais que existia e que existe até hoje.
Na época, não havia agrônomo e a cada semana um era designado para fazer os trâmites de importação e exportação de produtos de origem vegetal. Henrique Sant’Anna, meu marido, também é agrônomo e AFFA, é gaúcho e o conheci no Acre, antes de entrar no MAPA. Por uma questão de saúde, em 2015 viemos morar no Rio Grande do Sul. Quando cheguei, comecei a trabalhar no laboratório de classificação vegetal, na época, chamava-se LANAGRO e hoje é o LFDA (Laboratório Federal de Defesa Agropecuária).
Como enxerga a importância do AFFA?
A função do auditor é de fundamental importância em todas as áreas do agronegócio.
Cuidamos da produção, exportação e importação de insumos e de produtos de origem vegetal e animal. Fazemos todo o trabalho de vistoria, coleta, inspeção e fiscalização – desde a produção até a mesa do consumidor. Mas há uma grande defasagem de servidores em todo o Brasil.
Para se ter uma ideia, fiz concurso para inspeção, mas tive de atuar na fiscalização, na vigilância e agora estou no laboratório. E a falta de pessoas para atuar nessas áreas é enorme. Não tem concurso há muito tempo, principalmente para engenheiro agrônomo. Sabemos que nas regiões de fronteira, como Acre, Rondônia, Roraima e até no Mato Grosso está faltando gente e essa falta de pessoal prejudica muito o trabalho.
Antes de sairmos do Acre, nós e outros colegas, fizemos a prospecção da monilíase do cacaueiro. Foi gerado um documento relatando que se medidas de defesa e fiscalização não fossem tomadas, a doença poderia chegar em breve, o que ocorreu. Ou seja, havia sido previsto há muito tempo, mas com a falta de pessoal e de organização, o problema acabou entrando no Brasil, trazendo sérios riscos à produção de cacau.
O papel do auditor é fundamental para a segurança, não só alimentar, mas para a produção do país. Por exemplo, no laboratório de sementes há a parte de fiscalização da importação de sementes, onde são feitas análises para verificar a qualidade das sementes e identificar se junto às sementes analisadas existem sementes de pragas quarentenárias.
Há também a parte que atua no credenciamento dos laboratórios de análises das sementes comercializadas no país. O credenciamento visa que esses laboratórios sigam as regras de análise de sementes para, além de verificarem a propagação de sementes com qualidade, evitem a propagação de pragas e doenças no país.
Quando e por que ingressou no sindicato?
Entrei no sindicato desde que ouvi falar de organização sindical dentro da categoria. No Acre não tinha representação direta. Pelo reduzido número de fiscais que havia, quem nos representava era o Estado de Rondônia. Na época não era sindicato, era associação. Após os concursos, novos fiscais chegaram e passamos a ter representação local. Já fui delegada sindical do Acre e participei como suplente na gestão do Mario Peyrot Lopes, agora estou como diretora na gestão da Soraya Elias Marredo. Ou seja, sempre estive envolvida com o sindicato.
As lutas da categoria devem de ser feitas via sindicato. Nem sempre estamos satisfeitos com a direção tomada, mas é uma busca constante na melhoria. É importante a participação de todos porque o sindicato não é formado apenas pelos dirigentes, cada um individualmente tem de auxiliar na busca por melhorias não só salariais, mas nas condições de trabalho. Em que pesem as dificuldades, aos poucos vai melhorando, mas, ainda temos coisas e direitos a serem alcançados.
O que dizer para quem entrou mais recentemente?
Acho que precisamos ter uma consciência coletiva. Muitos não sabem sobre as várias passagens de lutas que tivemos durante a história da carreira. Comecei com meu salário muito menor do que os fiscais do Estado do Acre. As coisas melhoraram muito não apenas no aspecto salarial, mas nas conquistas de espaço.
O que nos falta é o reconhecimento da importância da categoria não só pelo governo, mas também pela sociedade. Então, precisamos que a população nos conheça e saiba da importância do nosso trabalho e penso que o sindicato pode nos apoiar nisso, divulgando nossas atividades, coisa que individualmente não conseguimos.