Em geral, o sentimento de mudança ou de continuidade está associado à capacidade do governante de atender às demandas da população por serviços públicos, como saúde, educação, segurança, transportes, por emprego ou por valores como democracia e ética
No texto anterior sobre eleições, tratei dos “eixos de campanha e do respeito ao eleitor”. Neste vou abordar dois dos três vetores que são determinantes numa campanha eleitoral: o ambiente político e a popularidade do governante no momento da eleição. O ambiente político por ocasião das eleições gerais é como uma espécie de general da natureza das coisas, que derrotará inexoravelmente qualquer um que o desafie. O ambiente político é um sentimento difuso que se manifesta pelo humor do eleitor em termos de continuidade ou de renovação. São tendências quase que irreversíveis.
Em geral, o sentimento de mudança ou de continuidade está associado à capacidade do governante de atender às demandas da população por serviços públicos, como saúde, educação, segurança, transportes, por emprego ou por valores como democracia e ética. A percepção de satisfação significa ambiente de continuidade e o de decepção ou rejeição significa ambiente de mudança.
Outro termômetro para medir o ambiente político ou o humor do eleitor tem a ver com o nível de aprovação do presidente da República no momento da eleição e a percepção sobre o posicionamento político dos candidatos em relação ao governante e suas práticas.
Quando o ambiente é de continuidade, o sucessor tende a ser o candidato apoiado ou aliado do governante. Quando o ambiente é de renovação, o sucessor será de algum dos grupos políticos adversários. Pelo menos tem sido assim nas últimas seis eleições presidenciais. A tabela a seguir resume o ano da eleição, o governante e o ambiente político
Nas seis últimas eleições, os índices de aprovação dos presidentes e o desempenho de seus candidatos foram muito próximos, com derrota dos candidatos apoiados pelos presidentes impopulares e a eleição dos candidatos dos presidentes populares, conforme segue.
No pleito de 1989, o então presidente José Sarney não teve candidatura à sua sucessão, mas nenhum dos candidatos dos partidos que lhe davam sustentação teve bom desempenho nas eleições. Os três mais votados, com tônica oposicionista, foram Collor (PRN), Lula (PT) e Brizola (PDT), tendo os dois primeiros disputado o 2º turno, com vitória de Collor, com 53,03% dos votos válidos.
Em 1994, Itamar Franco tinha 55% de aprovação popular e FHC, que era seu candidato e ex-ministro da Fazenda, foi eleito com 54,24% dos votos válidos, em primeiro turno, contra Lula, do PT.
Na eleição de 1998, FHC era aprovado por 58% da população e teve 53,06% dos votos válidos, sendo reeleito no primeiro turno, também contra Lula do PT.
No pleito de 2002, FHC tinha 35% de aprovação e seu candidato, o ex-ministro do Planejamento e da Saúde, José Serra, alcançou 39% dos votos válidos no segundo turno, perdendo a eleição para Lula, que obteve 61,27% dos votos válidos.
Em 2006, Lula tinha 63% de aprovação e foi reeleito com 60,83% dos votos válidos em segundo turno, derrotando o tucano Geraldo Alckmin. Na eleição de 2010, Lula tinha aprovação superior a 80% e elegeu sua candidata, a exministra de Minas e Energia e da Casa Civil, Dilma Rousseff, em 2º turno, com 56,05% dos votos
válidos, contra José Serra, ex-governador de São Paulo.
Em 2014, Dilma Rousseff tinha 38% de apoio (bom e ótimo) e 38% de regular, e se reelegeu em segundo turno, contra Aécio Neves, com 51,64% dos votos válidos. Para 2018, a julgar pelo baixo apoio popular ao governo Temer e pelo sentimento de decepção da população sobre as práticas e as políticas públicas em curso, a tendência será de renovação. E todos os que estiverem vinculados ao atual governo, inclusive aqueles com perspectiva de poder, como o PSDB, se não se desvincularem rapidamente da imagem do atual
Chefe do Poder Executivo e do arrocho que vem promovendo, certamente estarão fora da linha de sucessão. Como se pode depreender desta leitura, o ambiente político parece determinante para o resultado da eleição. É claro que entram outros fatores, como programa de governo e recursos de campanha, mas nenhum isoladamente se sobrepõe à vontade de continuidade ou de mudança do conjunto dos eleitores.
(*) Jornalista, Analista Político e Diretor de Documentação do Diap