O Anffa Sindical vem abordando a importância do adido agrícola na relação internacional. Um dos países que já possui correspondente na área, é o Vietnã. Em entrevista, o adido explica como funciona o mercado, habilitação de estabelecimentos, planta de Concórdia da BRF, para exportação de suínos e os impactos da Covid-19
O Anffa Sindical vem abordando a importância do adido agrícola na relação internacional. Um dos países que já possui correspondente na área, é o Vietnã, que conta com o apoio do Auditor Fiscal Federal Agropecuário, e Adido Agrícola, Tiago Charão de Oliveira. Em entrevista, ele explica detalhadamente como funciona o mercado, habilitação de estabelecimentos, planta de Concórdia da BRF, para exportação de suínos e os impactos da pandemia da Covid-19.
Tiago assumiu a posição de adido agrícola no Vietnã no final de 2017. Em 2010, o Brasil contava com oito postos de adidos. Este número vem sendo ampliado, desde então, com a perspectiva de até 28 posições, conforme anunciado pela Ministra da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina.
Planta de Concórdia
Desde 2016, o Vietnã e o Brasil possuem um Certificado Sanitário Internacional negociado para a exportação de suínos. O país dispensa a necessidade de missões presenciais para a habilitação de novos estabelecimentos, sendo o trabalho realizado de forma documental.
Por meio de um adido agrícola no Vietnã, é possível negociar o envio de toda a documentação através do sistema SEI (Sistema Eletrônico de Informações), dispensando o uso de mala diplomática.
Recentemente a planta de Concórdia (SC) da BRF, uma das maiores companhias de alimentos do mundo, foi habilitada pelo Departamento de Saúde Animal do Vietnã (Department of Animal Health – DAH – em inglês) para exportar cortes de suínos para o país do sudeste asiático.
“Novas trocas de documentação são realizadas, até que o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural do Vietnã esteja satisfeito. Geralmente, conseguimos a habilitação entre a segunda, como foi o caso desta planta, e a quarta remessa de documentos”, informou Oliveira.
As autoridades sanitárias vietnamitas têm levado cerca de um mês para fazer a avaliação da documentação encaminhada. Caso novas informações sejam necessárias, estas são encaminhadas por ofício à Embaixada do Brasil, é digitalizada pelo adido, traduzida para o português (o original costuma estar em vietnamita) e anexada ao processo de habilitação.
Após aprovação, a relação atualizada de estabelecimentos habilitados é publicada no site do Departamento de Saúde Animal vietnamita.
A planta de Concórdia é um dos dois abatedouros componentes do SIF 1, estabelecimento pertencente à BRF S.A. localizado na cidade de Concórdia/SC. Além da planta de suínos, habilitada em setembro, este estabelecimento já havia habilitado sua outra planta para exportar aves desde 2017.
“É importante notar que a nova habilitação é para produtos In Natura, pois mesmo para suínos, o estabelecimento já havia sido habilitado em 2018 para produtos que passaram por tratamento térmico”, colocou Tiago.
Entre as duas plantas, o SIF também possui habilitação para diversos outros países, incluindo todos do Mercosul, a União Europeia e as Filipinas. “Isto se insere em um amplo quadro, de 20 plantas no Vietnã, somente em 2020. Isso possibilita uma diversificação de destinos ao produtor e comprova o reconhecimento da excelência dos produtos brasileiros e a confiabilidade na fiscalização, pela comunidade internacional”, acrescentou.
Mercado Vietnamita
O Vietnã é um país tropical, que busca, não somente a autossuficiência alimentar, mas a integração nas cadeias globais de valor na produção agrícola. Dessa forma, os processos de negociação de novos certificados de produtos brasileiros, voltados à alimentação humana, tendem a ser burocráticos e morosos.
Por outro lado, é receptivo para compra de produtos que servirão de matéria-prima para a indústria local. Sendo um forte exportador de pescados. Isto reflete na compra de elevados volumes de proteínas para ração de animais aquáticos. “Em relação a produtos não alimentares, o Vietnã possui uma forte indústria têxtil, o que o torna um dos principais destinos do algodão e do couro brasileiro”, complementou o adido.
“Além da carne de aves e suínas, já temos acordado, certificados específicos para lácteos e algumas farinhas animais. Atualmente, trabalhamos na abertura da exportação de bovinos vivos e melões brasileiros ao país. Estes dois produtos tiveram suas negociações aceleradas com a visita da Ministra Tereza Cristina no ano passado (2019) e devem ser concluídas em breve”, disse.
Impactos da Covid-19
O impacto da Covid-19 no Vietnã foi muito reduzido. Considerando os dados atualizados em 06 de outubro de 2020, o país possuía 1097 casos e 35 mortes causadas pelo vírus. Um número relativamente pequeno quando se considera uma população estimada de quase 100 milhões de habilitantes. O país se fechou rapidamente, ainda em fevereiro, restringindo voos internacionais e impondo 14 dias de quarentena para todos que chegam no território nacional.
“Estes procedimentos, positivos para o controle da pandemia, tiveram o revés de dificultar as negociações com o Brasil, pois praticamente impossibilitaram a realização de missões sanitárias, fitossanitárias ou políticas para a assinatura de novos acordos” recordou.
Um fato que ficou relegado ao segundo plano durante este ano e só voltou um pouco à tona com os recentes casos na Alemanha, foram os impactos da Febre Suína Africana (FSA) na Ásia. “A FSA no Vietnã teve um forte impacto nos rebanhos e consequentemente no preço das carnes no mercado local. O país, entre 2019 e 2020, perdeu cerca de 20 a 30 por cento de sua produção de suínos. Mesmo ampliando as importações, como a doença também abalou fortemente outros países no continente, com destaque para a China, os preços da carne suína seguiram elevados. Mesmo proteínas de outros animais, consideradas bens substitutos, foram afetadas e também aumentaram seus preços. Dessa forma, tal situação criou oportunidades para os produtores brasileiros”, finalizou.