Por: Alexander M. G. Dornelles¹
Nas últimas décadas, a população mundial está crescendo, aproximadamente, um bilhão de habitantes a cada duas décadas, com grande repercussão na sustentabilidade do planeta. Além disso, a tecnologia médica e o acesso à informação têm influenciado significativamente para o aumento da longevidade em nível mundial. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a população mundial deve chegar em 8,5 bilhões, em 2030, e a 9,7 bilhões, em 2050. Nesse cenário, o mundo deverá ser capaz de produzir alimentos em quantidade suficiente e baixo custo para garantir o acesso às populações mais carentes da América do Sul, Ásia e África. Soma-se a isso, que a população mais envelhecida, exige produtos agroalimentares com maior qualidade, uma vez que os idosos possuem maior suscetibilidade aos principais patógenos, tais como: bactérias, vírus, protozoários. Como cita o Professor Emérito de Harvard e grande referência mundial na área, Dr. Ray Goldberg, em seu livro intitulado Food Citizenship: Food System Advocates in Era of Distrust, publicado em 2018, traduzido como “A Cidadania Alimentar: Defensores do Sistema Alimentar na Era da Desconfiança”. Ele destaca alguns pilares essenciais do setor agroalimentar: meio ambiente, saúde e consumidor.
O Brasil é um país continental, com muita tradição no setor agroalimentar e grande potencial para atender a crescente demanda mundial, alavancada pelo crescimento econômico dos países emergentes nas últimas décadas. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU), o Brasil será o maior produtor e fornecedor de alimentos até 2030. O Prof. Dr. Roberto Rodrigues, ex-Ministro da Agricultura do Brasil, aponta três pilares como os grandes diferenciais brasileiros: 1) disponibilidade de terra agricultável, incluindo os aspectos climáticos; 2) tecnologia, para competitividade e agregação de valor; e 3) pessoas, com tradição agroalimentar. Em relação ao pilar pessoas, vale destacar que um estudo com líderes e liderados, realizado pela Professora Marizabel Ribeiro, do HayGroup, aponta que os bons líderes aumentam o desempenho das equipes em até 30%. Desde 2020, o Fórum Econômico Mundial tem apontado que as habilidades dos profissionais do futuro não são as técnicas específicas (aplicáveis ao setor de alimentos) e sim as habilidades não-técnicas, como liderança, comunicação, resolução de problemas complexos, inteligência emocional, etc. Portanto, num cenário de grande salto na demanda mundial de alimentos, temos que continuar inovando, seja de forma incremental (pequenas melhorias nos sistemas atuais) ou de forma disruptiva (grandes saltos por meio de novos modelos).
Como devemos proceder para lidar com tudo isso? Em 2020, a metáfora da árvore me permitiu facilitar o entendimento disso tudo. As raízes representam os nossos condicionamentos mentais, já o tronco, as competências técnicas (hard skills), relacionadas à nossa área específica das ciências agrárias ou agroalimentares, a copa como as competências não-técnicas, humanísticas ou comportamentais (soft skills) para alcançarmos os frutos de excelência, aqui representando os resultados obtidos em alta performance, ou seja, na nossa melhor versão. Respondendo a pergunta anterior, devemos primeiro entender e sedimentar que a alta performance é obtida com sustentabilidade. O primeiro aspecto é a sustentabilidade intrínseca do líder, no que se refere ao equilíbrio da vida pessoal e profissional. Em seguida, a sustentabilidade organizacional, seja no setor privado, público ou terceiro setor. A sigla ESG, que significa Environmental (meio ambiente), Social (responsabilidade social) e Governance (governança) está em voga não é sem fundamento. A competitividade no mercado globalizado nos impele a evoluirmos, sistemática e continuamente com sustentabilidade em sentido lato, e o desenvolvimento de bons líderes será a nossa “mola propulsora” para potencializar nossos talentos e atendermos o grande desafio de alimentar o mundo nos próximos anos.
1 Auditor Fiscal Federal Agropecuário e Master Trainer no Agro Alimentos
Fonte: Alimentos e Saúde Pública
*Os artigos publicados não traduzem a opinião do Anffa Sindical. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos temas sindicais e de refletir as diversas tendências do pensamento.