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Fiscais aposentados do USDA preocupam-se com proposta de privatização da inspeção do abate de suínos nos EUA

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Segundo a notícia divulgada pelo “Food Safety News" intitulada “Retired USDA Inspectors Share Concerns About HIMP Project”, Joe Ferguson é fiscal aposentado do U.S. Department of Agriculture (USDA) & Food Safety and Inspection Service (FSIS) e passou mais de 23 anos em operações de fiscalização e monitoramento nas plantas de processamento de carne de suínos, inspecionando carcaças para detectar sinais de qualquer coisa que pudesse traduzir em um problema de segurança alimentar, em particular, de contaminação por Salmonella.

Mas Ferguson, que se aposentou em setembro de 2014, agora é um “whistleblower” (denunciante), e une suas forças juntamente com os críticos que denunciam que o privaticionista programa piloto de alta velocidade destinado à inspeção do abate de suínos, que é sugerido pelo USDA, é um pesadelo para a segurança alimentar. Os críticos desse programa piloto acusam que a alta velocidade do trânsito das carcaças nas linhas de processamento, impede a detecção dos sinais de problema, além da redução do número de fiscais do governo nesse setor.

Cinco plantas piloto de abate de suínos dos EUA, conhecidas por Inspection Models Project (HIMP), são monitoradas pelo USDA, e participam da sua proposta de análise de perigos. Essas cinco plantas piloto também se submetem à Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC).

O Inspection Models Project (HIMP) sugerido pelo USDA prevê um sistema com viés privaticionista sobre a inspeção do abate tornando-a supostamente mais flexível e eficiente. A velocidade da linha de processamento é 20 por cento mais acelerada do que nas plantas de abate convencionais, permitindo o processamento de cerca de 1.300 suínos por hora. O projeto piloto tem viés privaticionista, portanto, delega aos trabalhadores das plantas de abate muitas responsabilidades na inspeção das carcaças, enquanto os fiscais do governo verificam [auditorias] a eficácia do trabalho de inspeção realizado pelas empresas.

“Na minha opinião, as únicas normas com que se preocupavam eram as que a empresa tinha para com a produção”, disse Ferguson ao Food Safety News, referindo-se a Hormel Foods Corporation, um dos principais fornecedores de carne de suínos em Austin, MN, e que se tornou um alvo particular de críticas.

Um vídeo disfarçado feito recentemente dentro da planta de abate de suínos da Quality Pork Processors Inc., foi lançado 11 de novembro por um grupo de direitos dos animais. O vídeo, juntamente com alegações de ativistas que defendem a segurança alimentar, levantou preocupações sobre processamento de carne suína para o âmbito dos EUA. Esse vídeo foi feito por um ativista do grupo de direitos dos animais sem fins lucrativos chamado Compassion Over Killing. O vídeo inclui imagens de suínos sendo espancados e arrastados, e eles são mostrados contorcendo-se em uma correia transportadora no matadouro com suas gargantas cortadas no matadouro. O grupo disse que o vídeo mostra que os suínos são processados com fezes e abscessos com pus para consumo humano com um “selo de aprovação de inspeção do USDA”. O vídeo também mostra um empregado da planta de abate, que parecia estar dormindo no momento em que o grupo de direitos dos animais disse-lhe que ele deveria estar trabalhando.

Um porta-voz do USDA, disse que essa agência federal investigaria as irregularidades denunciadas no vídeo sobre possíveis violações do Humane Slaughter Act1 . “As ações representadas no vídeo em análise são totalmente inaceitáveis, e se nós podemos verificar a autenticidade do vídeo, vamos investigar o caso com rigor e tomar as medidas adequadas”, disse o USDA em um comunicado. “Se essas ações foram observadas pelos trabalhadores, isso resultaria em ação regularizadora imediata contra a planta de abate”.

O Food Integrity Campaign, um programa mantido por um grupo de ativistas denunciantes, chamou o Government Accountability Project (GAP)2, e disse que o vídeo mostra apenas uma parte dos problemas. Ferguson e um outro fiscal aposentado do USDA, manifestaram suas preocupações sobre as condições da planta de abate de suínos sob o sistema de inspeção HIMP, e acreditam que há ameaça à saúde pública.

Os empregados da planta de abate testemunharam que a velocidade na linha de processamento é tão rápida que é quase impossível detectar abscessos, lesões, matéria fecal e outros problemas que podem tornar as carcaças de suínos inseguras ou insalubres, disse em um informe o Food Integrity Campaign. Os empregados da planta de abate não podem relatar com precisão os problemas de segurança alimentar ou reduzir a velocidade de processamento sem medo de retaliação, e os fiscais do USDA só são autorizados para realizarem [auditagens] inspeções em uma pequena amostra de suínos que não refletem o verdadeiro [à saúde humana] risco patogênico, disse o GAP.

“Os empregados disseram-nos o que acontece nesta planta de abate da Hormel. Não é surpreendente que, quando as preocupações com a segurança alimentar aparecem, outros problemas em áreas de interesse, como o bem-estar animal e a segurança dos trabalhadores, também surgem”, disse Amanda Hitt, diretora do Food Integrity Campaign.

O Food Integrity Campaign de Hitt suscitou preocupações semelhantes em janeiro, quando este grupo disse, com base nos depoimentos obtidos a partir de Ferguson e outros três fiscais do USDA, que há aumento dos problemas de contaminação nas plantas sob o sistema HIMP. Um programa similar também é usado em plantas de abate de aves nos Estados Unidos, e um sindicato que representa os empregados do setor nos Estados Unidos afirmou que a inspeção sob o HIMP põe em risco a segurança alimentar.

Empresas alimentícias, como a Hormel, Jennie-O, Muscle Milk e Dinty Moore, referiram-se ao USDA sobre as questões que envolvem a eficiência do HIMP, bem como, suas preocupações relacionadas com a segurança alimentar.

O USDA, contudo, defendeu o programa privaticionista HIMP e disse que ele não é o culpado pelos problemas vistos no vídeo. O USDA acrescentou que a sua própria análise mostrou que as plantas de abate de suínos sob o HIMP operam, igual ou melhor do que as que usam processos de inspeção tradicionais.

No sistema HIMP de abate de suínos, há dois ou três encarregados de verificação de carcaças on-line e um encarregado de verificação off-line distribuídos em cada linha de processamento. Nas fábricas tradicionais de processamento de carne de suínos, normalmente há sete encarregados de verificação de carcaças on-line e um de verificação off-line.

O USDA disse que no sistema HIMP, fiscais do governo executam 1,4 vezes mais inspeções off-line do que ocorre em plantas de suínos convencionais. O USDA também observou que os estabelecimentos sob o sistema HIMP têm baixos níveis de insegurança alimentar, níveis equivalentes ou melhores para testes de detecção de Salmonella, e menos testes positivos para os resíduos químicos.

Pat Maher, outro fiscal aposentado do USDA com 30 anos de experiência, disse a Food Safety News que não é totalmente contra o modelo de inspeção HIMP, mas julgou que as altas velocidades nas linhas de produção são um problema. “São muito rápidas, e para mim essa velocidade não permite olhar adequadamente as coisas, isso é certo”, disse Maher.

 

1 A Humane Slaughter Act, ou os métodos humanos de Livestock Slaughter Act, (PL 85-765;. 7 USC 1901 et seq) é uma lei federal dos Estados Unidos projetado para diminuir o sofrimento dos animais durante o abate . Foi aprovado em 27 de agosto de 1958.

2 O Government Accountability Project (GAP) é um grupo denunciante de proteção e organização de defesa nos Estados Unidos. É uma organização sem fins lucrativos de interesse público. O GAP litiga casos de denúncia, ajuda a expor irregularidades ao público. Desde a sua fundação em 1977, a GAP já ajudou mais de 5.000 denunciantes.

 

Fonte: Afisa-PR/Associação dos Fiscais da Defesa Agropecuária do Estado do Paraná

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