Aconteceu na tarde de terça-feira (15/03) o primeiro painel do SEDAGRO, durante a III Expomeat. Com a mediação do presidente Janus Pablo, os painelistas conversaram sobre as perspectivas dos mercados internacionais de carnes brasileiras em 2022
O presidente do Anffa Sindical abriu o painel apresentando dois vídeos referentes à carreira dos AFFAs, e inserindo-os no contexto do diálogo. Pablo destacou a atuação dos Auditores durante a pandemia do Covid-19, relatando o trabalho ininterrupto dos fiscais que impediu a falta alimentos tanto internamente, quanto para exportação, e defendeu a necessidade da criação de parcerias com o setor produtivo e o governo, a fim de construir novas ideias e promover o crescimento da agropecuária brasileira.
Como sindicalista, Janus tocou também no aspecto da reivindicação dos AFFAs pela reestruturação, afirmando ser necessário atualizar a carreira de maneira a acompanhar a modernização do setor agropecuário.
A seguir o diretor do departamento de temas técnicos, sanitários e fitossanitários, Leandro Feijó explicou um pouco sobre o processo de habilitação do Brasil para a exportação de carnes e o papel dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários nesse cenário. De maneira bastante direta, Feijó demonstrou que, para que a exportação aconteça, o Brasil precisa atender a determinados requisitos e então, oficializar um acordo junto às autoridades do país de destino. Durante esse processo de negociações, é fundamental a presença de um agente técnico junto à diplomacia, para viabilizar essas aberturas de mercado. Esse é o papel do adido agrícola.
“Entendemos que não existe mais uma divisão entre o setor público e o privado, mas sim um cooperativismo, uma inteligência que trabalha articulada com o MAPA e os nossos interlocutores traçando movimentações que nos levem à abertura de novos mercados. Nesse sentido os AFFAs são parte essencial no sentido de demover barreiras e ampliar nossa participação no mercado internacional”, analisou Leandro.
Apresentando os principais mercados de carnes bovina, suína e aves em negociação neste ano, o diretor traçou um panorama do potencial de mercado para as exportações brasileiras dos produtos em negociação, conforme abaixo.
Além disso, demonstrou os principais mercados abertos nos últimos 4 anos, com destaque especial ao acordo firmado na última segunda-feira, (14/03) pela Ministra Tereza Cristina, no Canadá que oficializou a importação de carnes bovina e suína para aquele país.
Por sua posição de Auditor Fiscal Federal Agropecuário Leandro reforçou a necessidade de reestruturação da carreira. “Precisamos que carreira seja reconhecida não por mero corporativismo, mas porque o agronegócio é o nosso negócio e somos competentes no que fazemos. Precisamos de uma SDA estruturada e forte, com mecanismos eficazes para o controle de entrada e saida de produtos, impedindo o ingresso de animais e produtos agrícolas que possam colocar a defesa agropecuária em risco.”
“Embora tenham entrado colegas para o SIF, devido à febre aftosa, permanece a carência e necessidade de apromorar o efetivo de colegas, pois se não tivermos um processo de vigilância estruturado, com pessoal certo, hora certa, AFFAs em número suficiente trabalhando com dignidade para continuar a prestar um serviço de qualidade ao país, não teremos como reverter possíveis resultados indesejados,” analisou enfatizando a necessidade urgente de concurso público para AFFAs.
Ainda em relação ao tema de mercados internacionais, Leandro Feijó fez um breve retrospecto do trabalho dos adidos. “O projeto de adidância que começou tímido em 2004 com oito adidos mostra sua importância técnica junto à embaixada na missão de colaborar com o corpo diplomático a entender a negociação e seus vieses. Também somos gratos à Ministra Tereza Cristina, que tem trabalhado de maneira árdua pela categoria, colaborando para a abertura dos mais 32 mercados alcançados de 2019 a 2022.” E finalizou: “A história mostra que a presença dos adidos nesses postos de diplomacia faz toda a diferença, por isso temos lutado para não somente aumentar a quantidade de postos, como também para garantir que sejam ocupados essencialmente, por AFFAs, pois onde tem adido tem eficiência e resultado”, declarou.
Projeções
Luiz Rua, da ABPA foi o próximo a apresentar-se fazendo um elogio ao colega anterior ao defini-lo como ‘incansável’ na defesa da qualidade agropecuária do país e avaliando que é esse tipo de comprometimento que traz avanços ao setor.
Luiz apresentou dados na Associação, que atualmente exporta para mais de 150m países e corroborando a informação de Feijó de que o trabalho dos adidos agrícolas tem importância expressiva na abertura de demais mercados assim como na manutenção dos já existentes. Em complemento, o diretor de mercados apresentou projeções de exportação para este ano e destacou possibilidades de acesso a novos mercados em decorrência da abertura de janelas por questões sanitárias.
“Nossa principal vantagem competitiva é a ausência de casos de influenza aviária e de peste suína africana. Com a barreira imposta a alguns mercados exportadores tradicionais, existe a perspectiva de que o Brasil seja chamado a ocupar essas janelas de exportação”, avaliou. Ainda em relação à carne suína, Luiz Rua também celebrou a recente abertura do mercado de suínos no Canadá, afirmando que a ação trará fôlego ao setor que vem sofrendo com os altos custos de produção.
A situação da guerra entre Rússia e Ucrânia também foi analisada. Segundo o diretor o principal desafio deste momento é entender e contornar as limitações apresentadas após a saída do país do sistema Swift. Por outro lado, Luiz ponderou que até antes do estopim da guerra a Rússia começava a incomodar o Brasil no quesito exportação de carnes de frango, tomando uma parcela relevante de mercado para si. Em decorrência do conflito armado espera-se, novamente, que o Brasil seja chamado a contribuir com maiores volumes desse item, já que enquanto durar o confronto é esperado que a produção do país seja direcionada à população interna.
Em relação ao futuro, Luiz apresentou a chamada 3ª geração de barreiras comerciais, ou seja “qualquer medida ou prática, de origem pública ou privada, que tenha o efeito de restringir o acesso de bens e serviços de origem estrangeira a um mercado.”
Conforme imagem abaixo faz-se necessário além de olhar para dentro do setor, buscando aperfeiçoar processos de eficiência técnica e econômica, manejo e ambiência, nutrição e sanidade, olhar também para fora, para as novas tendências apresentadas pelo mercado como o bem-estar animal, a saúde única e o meio ambiente, por exemplo. Assim ele avalia que “o Brasil é referência em eficiência técnica e econômica, sanidade, nutrição e genética. Agora é hora de buscar entender como somos vistos externamente, mapeando e agindo de acordo com o que o setor espera de nós em relação a temas atuais.”
Se nos estágios iniciais de consumo ao redor do mundo o consumidor busca segurança e sanidade alimentar, os dois próximos estágios trazem demandas como o valor agregado e novas tendências. “No estágio em que grande parte do mercado está, o consumidor deseja exprimir necessidades humanas e sociais por meio do que consome, e é em relação a essas questões que a indústria e o Brasil precisam estar preparados. É necessário sair na frente , manter a posição no setor de proteína animal. O mundo não deve ter fronteiras para os alimentos”, disse o diretor.
Em clara sintonia com o tema do painel, Antônio Camardelli, Presidente da ABIEC iniciou sua fala ao afirmar que “a adidância não é importante apenas pela presença do facilitador, perito no processo, mas também no cenário de retorno desses AFFAs que voltam com imensa capacidade de negociação implementada na carreira de Auditor Fiscal Federal Agropecuário.”
Ainda em sincronia com sua fala inicial acerca do painel, Camardelli avaliou o cenário pós-pandemia e afirmou: “Em um cenário de pandemia não existe autossuficiência. Além de abrir mercados, é preciso incrementar itens em mercados já abertos e conquistar países em dificuldades.”
Apresentando números de mercado o diretor compartilhou também um resumo das próximas rodadas de negociação com esses entes, seja para abertura de mercados, habilitação de empresas, missões técnicas e/ou sanitárias.
Camardelli deu protagonismo à carreira dos AFFAs inserindo-os de maneira essencial nesse cenário. “Não há exportação sem chancela oficial, e esse papel é do Auditor Fiscal Federal Federal Agropecuário.” E finalizou taxativo: “Não acontece sequer o abate sem a presença do Auditor, e se ele apenas assina o documento indiscriminadamente, fere com seu juramento profissional de aplicar seus conhecimentos para o desenvolvimento científico e tecnológico em benefício da sanidade e do bem-estar dos animais.”